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Lembranças (re)partidas

Hoje tive um dia um pouco desgastante,aliás,nem sei se esta será a palavra certa...foi um dia em que se falou de funerais(porque duas pessoas da terra faleceram),de doenças(porque um amigo de uma Amiga está em fase terminal) e novamente de doenças(porque o meu pai mais uma vez sentiu-se mal e nada de querer ir ao médico!)...e por isso pergunto-me se desgastante será o termo certo ou antes mórbido?ou angustiante?

No caminho para casa, vinha eu a pensar com os meus botões(sim porque embora a maioria das vezes diga que não estou a pensar em nada,o certo é que estou sim)que realmente tinha sido um dia de noticias "más",que nos fazem pensar e ponderar o verdadeiro sentido da Vida,e eis senão quando me cruzo com um tractor que instantaneamente me fez recordar o meu Avô!
O meu Avô Alfredo,há quanto tempo não soletrava este nome!

O Avô era o chamado caseiro numa quinta onde vivia com a avó numa grande casa e onde os netos e restante familia se juntavam para almoços e jantares familiares ou simplesmente para amena cavaqueira.
A imagem que tenho dele e ainda era muito miuda,(o avô já faleceu à 18 anos),era quando chamava por mim para irmos passear pelos pomares:

"Oh catraia,vamos passear?" Oh como o consigo ouvir na perfeição!

Pegava-me pelas covas dos braços e punha-me na caixa cor de laranja do tractor,colocava-me as mãos em posição segura e dizia de imediato:
"Segura-te bem para não teres medo!",e eu era obediente o suficiente porque no fundo era bastante medricas mas não lhe queria dizer!
E então lá sobia ele para o volante do tractor,sentava-se,levantava a boina ligeiramente para coçar a careca,voltava a ajeitar a boina que ficava meia de lado e punha o tractor em marcha!
Maravilha de passeios...ia devagar e sempre a olhar para trás...passávamos pelos açudes de água, mostrava o rebuliço que o sjavalis faziam à noite e parava mesmo pertinho das árvores de fruta para apanhar uma ou outra.
Depois de a arrancar pelo picaro,virava-se para mim e dizia-me com aquele sorriso tão meigo:

"Toma lá catraia,portaste-te bem,tens direito a uma surpresa!"

E depois só arrancava novamente quando tivesse a peça de fruta comida e de vez em quando deixa-me regressar ao volante com ele,e nessas alturas coloca a boina na minha cabeça...chegados a casa dava uma buzinadela e a avó vinha ter connosco enquanto ele estacionava o tractor...amanhã haveria mais!

Era incrivel como retemos na nossa memória recordações tão distantes mas que nos marcaram e secalhar se quiser dizer um "porquê"mais especifico não sei...mas sei que me sabia bem e que consigo descrever e sentir a sensação como nunca...

Hoje ao ver um senhor não sei de onde nem quem era,o certo é que me recordou o Avô...alguém muito querido,muito amigo e que tambèm partiu vitima de doença quando ainda era novo...

...Sempre foi um lutador mas nessa luta (como quase sempre acontece com estas doenças "más"saiu perdedor...
Ele e nós...

Comentários

  1. existem recordações que por mais anos que passem nao nos esquecemos delas...deixo.te um beijinho com carinho..

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