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Day after day...

"Meu Deus,isto é horrível...tal e qual como vejo retratado nos filmes...a diferença é que aqui eu estou presente, aqui venho ver alguém que por algum motivo me diz alguma coisa...
Como é que isto acontece?Sim sei como acontece mas...como se chega até ao fim?Como se cai neste abismo sem conseguir parar?
passei aquele corredor amedrontada, temia que saísse de algum quarto alguém disparado na minha direcção...tal não aconteceu assim dessa forma mas...quase...

Abrem a porta lateral que está sempre trancada e nós entramos...
Ela estava a meio do corredor, encostada à parede, na quina, muito encolhidita no seu robe branco, cabelo meio desgrenhado,olhar vazio e parado e as lentes dos óculos manchadas com pingos de gordas lágrimas...
Um abraço foi logo o que de imediato procurou...enroscou-se no calor de alguém mais velho e com toda a certeza de alguém em quem confia e que admira,acima de tudo!
Dirigimos-se para o quarto...percorremos o resto do corredor o que a mim me pareceu infinito sempre com a sensação de que a qualquer momento alguém saia disparado de alguma divisão...mas não...pessoas deambulavam para trás e para a frente...outras em círculos... maioritariamente mulheres...e as idades?Bem...nunca pensei...
Miúdas novas,dos seus 20 e poucos anos...com um olhar distante,com um corpo presente mas que de certa forma não lhes diz nada...simplesmente deambulam...tanto choram como riem...tanto abraçam como batem...não conseguimos ver o que elas vêem nem muito menos perceber o que sentem...

Estão ali...porque a família as obrigou,porque o médico disse que sim,porque sabem que a cabeça não está muito boa...mas o porquê,os motivos reais...não sabem,parece-me que nunca chegam a entender verdadeiramente o que fazem ali e para ser sincera eu também não sei se ali,naquele sitio será uma opção a considerar...
Mesmo que tenham um rasgo de lucidez, ao olhar para a cama do lado,ao observar aquele outro que passa no corredor perdem os breves segundos que poderão ter de lúcidas!

25 anos de decisões,25 anos de luta,25 anos de preocupações,25 anos a pensar nela e na mãe (doente também assim como ela)...25 anos de sofrimento?Não,não sempre mas o suficiente para a deitar abaixo...o suficiente para cair ali!O suficiente para encontrar uma barreira que a bloqueia e a impede de viver e conviver...que a impede de crescer...
Uma fraqueza psíquica que a impossibilita de ser uma linda borboleta e esvoaçar por onde mais deseja...fraqueza essa que a mantém como que amarrada a uma mãe,que não deixa de ser mãe,mas que a perturba ainda mais, que a impossibilita de se libertar...

O que se torna certo e o que é errado?
Não interessa encontrar culpados,interessa sim arranjar soluções para desenvolver uma melhor qualidade de vida para ambas...
Mas é tão difícil, sentimos-nos tão impotentes perante tamanho drama..."

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