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[Ela]

A sensação constante de querer chegar a algum lugar.
A vontade imensa de querer pegar no mundo como quem levanta um globo, só com uma mão e rodá-lo, girar, abanar, mexer até ir de encontro com o meu querer.

Ela é um espírito livre, ou pelo menos assim o tenta ser...livre como um pássaro, que não se deixa agarrar facilmente. Mantem a vontade constante de não se limitar: sempre mais...Ser mais, ir mais, sorrir mais, abraçar mais, querer mais, viver mais.
Trás dentro dela o jeito suave da brisa dos dias de verão e o mar tempestivo dos dias de inverno.
Nuns dias toda ela emana calma, noutros é toda a revolta dum mar bravio.
Não teima em guardar em si nada que não lhe pertença mesmo que para isso tenho de doer. 
Teimosa por natureza, uns dias deixa os outros pensar que a intimidam quando são eles próprios que estão intimidados.

Na pele consegue guardar tanto o salgado do mar como o doce dos raios de sol.
O cheiro que emana provem sempre do mesmo creme, do mesmo perfume...leal nas escolhas, fiel nos gostos. 
O cabelo despenteado faz parte dos seus dias, assim como o uso de um só brinco, os anéis grandes nas mãos pequenitas ou as sardas que teimam em sobressair mais ainda à medida que o sol aparece.

Sapatilhas ou salto alto, calça de ganga ou vestido reluzente. O melhor restaurante ou simplesmente a melhor tasca. Adapta-se.No detalhe, no pormenor. Dois ou três amigos ou um grupo de desconhecidos. Uma sala cheia de gente ou uma mesa rodeada de pessoas. Cativa-se. Pelo coração. 
Olhos escuros e grandes em conjunto com pestanas longas não conseguem disfarçar nada bem o bom ou o mau humor, a adrenalina ou o cansaço. A transparência da sua essência  reflete-se, sem dúvida alguma, nos seus olhos.

Não foi feita para quem apenas pretende ficar nas margens. Apesar de se deixar contemplar no horizonte, é muito mais do que cada olhar consegue alcançar.
A gargalhada dobra à medida que se dá a conhecer para quem realmente entende valer a pena.
O sorriso brilha nas coisas mais simples...saborear um bom vinho, trincar uma bela massa,balançar o corpo ao ritmo duma boa música, andar descalça em casa, pisar a areia na praia, um banho a ferver ao fim do dia, uma boa conversa, comer gelado nas noites frias,contemplar o silêncio.Simples assim.

Ela gosta de ser espontânea: de rir à boca cheia e olhos fechados, de gritar, de falar alto, de ralhar, de levantar o dedo indicador , de revirar os olhos, de enfiar os dedos pelo cabelo adentro, de bufar, de bater o pé, de misturar cores e texturas, de se preparar em cinco minutos ou em duas horas, de conter o choro ou de deixar saltar lágrimas gordas e gigantes. 
Umas vezes ser o oito e tantas outras o oitenta. Ela é uma força da natureza ainda que em alguns momentos, demasiados até, pareça que o mundo teima em conspirar contra ela.

Tem dias em que lamenta estar só.
Tem dias em que lamenta de tal forma que tem medo.
Tem dias em que lamenta de tal forma que tem medo e perde a coragem.

Tem dias em que foge dela bem mais rápido do que dos outros.Mas isso ninguém sabe, ninguém se apercebe.
Tem dias em que ela está só. Só com ela, embora esteja com os outros também.
Tem dias em que ela se obriga a ouvir-se: és luz, és brilho, és valente,és sorrisos,és amor, és sonhos, és felicidade.
És tudo aquilo que escolhes ser. E sabes ser.

Ela trás consigo aquele sorriso de menina, que pula em cima da cama sem medo de tombar e tem com ela aquele olhar misterioso de mulher confiante com carapaça de tartaruga, que guarda consigo um turbilhão de medos.

Dentro dela há o que ela é. E isso é único.E por vezes mágico. Para ela e para quem a cativa.
E não esperar nada será sempre o segredo para se conseguir tudo. Ou quase.

A.Pinheiro




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