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Vida

Pai,

Não sei se ainda tenho muito mais para escrever...mas acho que penso sempre isto mesmo quando começo...
Nestes últimos meses muitas perguntas têm ecoado dentro de mim, na cabeça mas também no coração. Tenho pensado bastante no que quero para mim e naquilo que não quero. Tal como tu, não é? Eras uma pessoa de "pão pão, queijo queijo"... Dizias tanta vez "É assim Andreia, ou gostam ou não gostam". E sabes é isso mesmo...ou se gosta verdadeiramente ou de nada adianta correr atrás. Seja de amores, de amigos, de pessoas que fazemos questão de ter quase à força à nossa volta.

Sei que gostavas muito de mim.
Não somente enquanto Pai, mas como amigo, como ouvinte, como contador de peripécias...eras uma alegria e sinto que isso me fugiu das mãos e essencialmente do coração...
Sei também que não te poderia prender a mim, apesar de eu estar muito presa...No fundo nem sei se alguma vez tentei desamarrar-me...sai de casa sim, tinha a minha vida, as minhas coisas, tu e a mãe também andavam muito ocupados com os amigos, os convivios, a diversão...mas no fundo era eu que me mantinha amarrada. Mais do que vocês, parece-me agora. Fui uma filha galinhas. Tanto! E tenho tanta falta disso.

Tenho fugido um pouco de casa, da nossa casa. Olhar para tudo aquilo trás-me neste momento um desespero, uma impotência. A revolta tem estado bastante presente depois deste ano inteiro...a dor não passa, os sorrisos custam a vir, olhamos à volta e continuamos a perder pessoas. Não me sinto infeliz, sinto-me até afortunada em alguns aspetos, mas no interior sei que jamais serei a mesma e lá está...ou estão comigo ou não estão. Todos à nossa volta têm memória tão curta...e isso também dói tanto, mas tanto...

Sempre me entendeste, apesar de sermos ambos muito rebeldes...e tenho tantas saudades de falar contigo.Tantas saudades das nossas coisas, do teu cheiro...passo a repetir tudo o que já disse mas é isso mesmo...uma repetição sem fim de falta de coisas, momentos, gestos, brincadeiras, toques...
É simplesmente horrível viver com esta falta dentro do nosso coração.

Sim, tenho falta de afeto.Assumo.
Sim, tenho falta das nossas rabujices. Assumo.
Sim, sinto me sozinha. Assumo.
Sim, dava tudo de mim para estares aqui. Assumo.
Sim, amarrava te cá e cuidava de ti acima de qualquer coisa. Assumo.
Sim, estou danada. Assumo.
Sim, mudou tudo por tua causa. Assumo.
Sim, queria que tivesses lutado ainda mais. Assumo.
Sim, queria que me protegesses. Assumo.
Sim, continuo a perder pessoas que amo de coração.
Sim, não sei como agir ou reagir quando bate aquela tristeza pesada que me deita abaixo perante a vida, perante as lutas, perante as crenças...

Tenho vivido numa montanha russa, picos de solidão, de tristeza.Picos de mimo com mãe, de companhia, de companheirismo. Picos de ausências de conversas, de sorrisos à mesa, de azáfama na nossa casa. 
Deste-me uma grande lição, Paizinho...Sabes, ao final deste ano tenho me questionado do que realmente vale o nosso tempo, a nossa dedicação, o nosso coração, a inteligência e a humildade. Não sou perfeita e nem pretendo ser...Falho com amigos, com pessoas de quem gosto, com a mãe. Falho no meu dia a dia. Falho. Simples assim.
Mas uma coisa eu sei...Quem me conquista o coração têm me para a Vida, sem dúvidas ou receios de falhar. Com a transparência e a humildade que foi crescendo dentro de mim.
Amo sempre de coração. Vivo de coração para aqueles que me gostam.

Vivi sempre de coração para Ti. Continuo a viver de coração ainda mais cheio por Ti pois as saudades também ocupam muito espaço. Continuarás a acompanhar-me sempre, mesmo que o tempo atenue esta dor. Mesmo que o tempo me faça quase que esquecer as nossas recordações.
Vivo de coração para Ti e para nós... 

"De que serve uma lição se não passar de hoje..."

Da tua menina,
Andreia

P.S: Este fim de semana é a noite branca, estarei de serviço...ajudavas-me sempre com ideias para estas coisas...Dançamos uma modinha, como habitual, não é Paizito?Um beijito

14/07/2017


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