Está quase a fazer um ano desde a minha última publicação...e de imediato vem-me à cabeça o pensamento algumas vezes constante em mim "o universo sabe o que faz." E cada vez me faz mais sentido porque, olhando para trás, e somente em forma de reflexão rápida porque não pretendo de todo voltar ao passado, vivia situações em que naquele momento achava com toda a certeza que não iria aguentar ou que não iria superar... tal como aconteceu com a morte do pai e a morte da tia...ou seja, situações que para nós naquela altura são o fim do mundo mas a verdade é que até mesmo com a morte , o ser humano tem uma capacidade extraordinária de se erguer. Não digo esquecer porque isso acredito e sei que não acontece, mas a capacidade de superação do ser humano é algo que cada vez admiro mais nas pessoas que me são próximas e em mim mesma.
Sim, admiro em mim mesma. Nem pareço eu a escrever isto... auto elogiar-me. Ter a noção realmente do que valho, da minha capacidade de superação e de resiliência. E também tenho a noção de que transmito essa confiança de mim mesma, de que é possível aguentar, aos outros. E sinto-me confortável com esta nova faceta. Sinto-me mais Eu, mais perto dos outros mas essencialmente mais perto de mim.
Realmente as lições da vida só as vemos passado algum tempo, quando conseguimos respirar tranquilamente e perceber que tudo encaixa, tudo tem um sentido , mais tarde ou mais cedo. Pode não ser quando queremos ou até mesmo quando precisamos. mas tudo acaba por ficar no lugar que tem de ser.
Durante este ano percebi, nem sempre da melhor forma e nem sempre de sorriso na cara...aliás mais vezes até de lágrimas gordas a saírem destes olhos grandes e a ensopar a almofada numa cama grande em quarto escuro...mas ainda assim percebi que tenho de fazer escolhas. Não de coisas materiais, mas escolhas de pessoas.
E escolher pessoas não é de todo uma tarefa fácil. Nem nos apercebemos que tem de ser feito. O nosso corpo vai-nos dando indicações, as noites mal dormidas vão-nos projetando outras alternativas, a necessidade de sorrir e ficar mais leve acaba por definir essas mesmas escolhas.
Para mim, que trabalho diariamente numa área em que as pessoas "fazem parte de mim"... torna-se ainda mais difícil diria até algo angustiante. Mas percebi que o tinha de fazer.
Profissionalmente até acabou por ser uma tarefa mais fácil, de ânimo mais leve porque obriguei-me a relativizar problemáticas, a definir prioridades, a fazer uma triagem quer de coisas materiais quer de pessoas...perceber o que efetivamente preciso e me acrescenta algo em matéria laboral. E só. Passa só por isso . Cumprir requisitos, sem perder autenticidade.
Na parte pessoal passou a ser algo extremamente difícil. De pensar e essencialmente...de executar. Gosto de pessoas, gosto de ser sociável, gosto de conhecer novas caras e novas perspetivas e tento dar sempre diversas oportunidades às pessoas que acabam por me ser próximas... e isso torna mais difícil fazer uma triagem do que passa a ser tóxico , do que deixa de ser leve para nos maltratar.
Escolher pessoas para partilharem as nossas coisas connosco é algo que pode ser visto como injusto, ou interpretado como egoísmo até talvez.
Mas consegui, aos poucos. Percebi que todos temos um tempo, e que há pessoas que inevitavelmente temos de deixar ir, porque já não fazem sentido neste tempo que estamos a passar . Precisamos de renascer, de novas visões, de novas histórias e até de novos problemas .
Porque a Vida é muito isto: a superação de cada dia...e os nossos dias contêm problemas, alegrias, sorrisos, lágrimas...um sem fim de sentimentos para um sem fim de soluções.
E se não fossemos capazes de responder na medida certa, o Universo não nos traria essa panóplia de sentimentos e sensações até nós.
Percebi neste longo ano que a vida que vivi foi muito o reflexo dos meus medos. Das ambições sim, claro. Mas sem sombra de dúvida foi demais o reflexo de medos, de zonas de conforto, de red flags, de caminhos difíceis mais que aparentavam ser mais fáceis do que outros. E perceber isto dentro de mim que tantas vezes me intitulei de lutadora e guerreira faz me parecer "fake"... mas de imediato páro e orgulhosamente olhos para o meu interior e percebo que sou uma miúda mulher com capacidade de reconhecer onde erro e onde posso melhorar, de perceber que o caminho foi o menos correto, de aceitar que por vezes também magoei e que por isso fui magoada. Capacidade enorme de aceitar e reconhecer , arrumar e seguir em frente sem a mochila cheia.
Agradeço a mim mesma quando estou sozinha , e por vezes estou rodeada de pessoas sejam mais ou menos conhecidas e dou me por grata pelos valores que sei que tenho dentro de mim.
Agradeço aos que me são próximos, que cada vez são menos mas que considero muito e tanto que valem por milhares. Pessoas que me procuram e as quais eu procuro . Pessoas que me ouvem e deixam ser ouvidas. Pessoas que me abraçam e que me deixam abraçar, e sorrir, e rir e chorar e saltar e dançar. Pessoas que não julgam apesar de terem sempre uma opinião. Pessoas que brindam nas vitórias mas que também estão lá nas derrotas. São as Minhas Pessoas. Escolhidas por mim. Por diversos momentos são os que estão na minha vida. Todos os dias , nas mais diversas formas de Amor.
Obrigada. A vocês. Mas também a mim. Pela minha capacidade de resiliência.
(A ti...Elsa, Ana, Daniel,Mãe,Bruno, Karina, Paulo, Cecille,Daniela.
Com Amor a cada um de vocês que estão sempre comigo.
A.Pinheiro
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