Avançar para o conteúdo principal

Ao meu Pai

O mês de Março é dedicado a todos aqueles que são pais, pai no masculino, de acordo com o padrão comum. Mas pode existir uma mãe, uma avó, uma pessoa mais chegada que faça o papel de pai e sinceramente para mim é válido de igual forma.
Mas hoje, vou falar do meu. O meu pai. O melhor do mundo. Para mim.

Pai,
Em nossa casa sempre existiu o hábito de oferecer um miminho em dias mais significativos. Fazias sempre de conta que não davas grande importância, mas se eu reagisse da mesma forma ficavas muito sério a olhar para mim “então não se diz nada ao pai hoje?” e eu continuava a fazer-me de desentendida e tu “mau, não se diz nada ao super pai hoje?” e nesse instante saia-me um “chato” e rapidamente colava as minhas bochechas nas tuas para duas beijocas e uma arranhadela da tua barba…Tão bom!!

Não sei se com o passar do tempo alguma vez tive oportunidade de te dizer o quanto foi boa a minha infância, o quanto bom pai foste. Apesar dos nossos desentendimentos que foram bastantes, apesar do teu mau feitio que eu tinha de ir buscar também, apesar de tudo o que é menos bom, não sei se alguma vez te disse que fui uma criança feliz. Não sei se tive tempo de dizer, se o tempo foi suficiente para te demonstrar.
Obrigada Pai,
por teres sido um Homem com letra grande, na medida em que os valores que te foram incutidos pelos avós, soubeste com toda a sensatez transmiti-los aos teus sucessores, eu.
Obrigada Pai,
por me teres segurado ao colo, mesmo com receio de não teres jeito. Mesmo com receio de que a tua menina fosse precisar vezes demais do teu colo.
Obrigada por me dares a mão,
mesmo depois de me dares na cabeça de encontro às tuas opiniões e decisões. Duma forma ou de outra, acabaste sempre por me ajudar pois ou estendias a mão de imediato ou primeiro “massacravas-me” com um raspanete ou com argumentos e somente depois é que estavas lá. Na mesma. Eras um coração mole, no fim de contas.

Mas esse coração mole só era conhecido por alguns e em alguns momentos. Raios, sou tão parecida a ti. Cada vez mais. Somos fechados. Duros. Inquebráveis, pensamos nós… mas depois lá no fundo…dói, magoa, entristece, demora a passar e a revestir a capa novamente... mas enquanto não passa, enquanto as feridas não saram, estamos lá. Da mesma forma como se não se passasse nada. Como se não sentíssemos nada. Inquebráveis aos olhos de quem olha, mas não de quem vê…tal como o coração mole.

Obrigada Pai,
por permitires uma grande aproximação nestes anos. Mudámos imenso, as nossas vidas alteraram por demais, mas olhando agora para trás, tinha de ser assim, senão não faria sentido. Inconscientemente obrigaste-me a mudar. A mudar posturas. A transformar pensamentos. A ser mais sincera nas palavras porque estar ao teu lado em momentos difíceis fez com que sentisse essa necessidade. De cuidar, de ser meiga, de aligeirar medos. De sentir na pele o verdadeiro amor de quem ama, de quem se sente valente ao mesmo tempo que impotente.

Fizeste de mim uma menina mulher com mais sentimento. Fizeste de mim uma menina mais crescida. Com mais dor e mágoa dentro dela, é certo, mas mais crescida. Fizeste de mim uma mulher mais madura, mais consciente do que é capaz de suportar, mais insegura também por causa do medo de falhar sozinha, mas ainda assim mais transformada para aguentar as tempestades. Mais sensível, mais introspetiva. Com necessidade de abraços, do toque, do gesto e não apenas das palavras. Tal como tu eras, um homem que gesticulava quando falava. Eu também. Um homem teimoso mas justo e humilde. Eu também. Um homem de sorriso difícil mas de coração enorme. Eu também. Um pai amigo, mas sempre no papel de pai. Eu também, uma filha amiga, mas na sua irreverência de filha.
Tenho tantas saudades de ti, meu Pai amigo…

Obrigada Pai,
por seres o pai esforçado que sempre vi em ti. Por olhares para mim e veres-me na totalidade, sem máscaras. És um grande ser humano, foste capaz de me educar sempre com pulso firme, mas com um sorriso no rosto. E que saudades tenho desse sorriso. Que saudades tenho de ti todo.
Este ano, passados estes terríveis 9 meses, será tudo diferente, mais uma vez. O primeiro ano de cada coisa será sempre doloroso. Lamento com todas as minhas forças não estares aqui para te dar aquele abracinho. Lamento não ouvir as gargalhadas e tu a perguntares pela prenda.

Agradeço sempre ter dado valor a estes dias, mesmo, porque quando não temos os nossos aqui ao lado, tudo perde o sentido e fica bem mais doloroso. As recordações são realmente aquilo que permanece em nós…
Agradeço ter recordações que apesar de me fazerem cair as lágrimas gordas dos olhos grandes, me preenchem o vazio que existe.
Ninguém sabe a transformação que ocorreu dentro de mim. Nem eu mesma, ainda. Tento persistir nesta caminhada, mas por vezes são dois passos atrás e um à frente…demora. Sei que a tua ausência massacra e quando dou por mim a olhar a tua fotografia que me acompanha, ou simplesmente a fechar os olhos, parece que estou numa outra realidade e o coração começa descompassado…vejo-te ainda tão bem à minha frente que em momentos acredito que estás ali, mas depois quando abro os olhos enormes e arregalados…

Não estás cá, mas como? Como é que isto é possível?
Não estás cá, o que te vou dar para veres que continuo a lembrar-me ou a tentar com que seja quase igual?
Não estás cá, como soletro “Feliz Dia do Pai”, a quem o soletro?
Não estás cá, a quem chamo de pai, e que saudades tenho de dizer “ pai” em voz alta. Que saudades terríveis que não atenuam…
Não estás cá para continuar a demonstrar-te o quão és especial e o quão fantástico pai foste.
Foste maravilhoso, caraças.

Fizeste-me rir e chorar por coisas boas. Fizeste-me acreditar que é sempre possível mais um bocadinho. Fizeste-me confiar nos instintos e fizeste-me perceber, da pior forma, que temos de valorizar cada momento e estar preparados para transformações nas nossas vidas, de todo o género. E que somos capazes. Que os dias bons virão.
Mais uma vez, meteste-me à prova nesta vida, que tão difícil tem sido. Mas irei subir mais este degrau, vais ver, não é? Vou conseguir. Mas agora, neste momento, este dia é de mágoa, de pensamentos e de dúvidas. De medos e de anseios.

E nestes 9 meses, relembrar a tua ausência é algo que me deixa desfeita. Ter o Dia do Pai, que se aproxima, sem ti será sem dúvida alguma, mais um desfasamento em mim, que tenho de aprender a superar, ou melhor, a atenuar.
Porque quem ama, mantém no coração. Coração que sente a presença, sim. Mas a ausência…ai a ausência, dói e sufoca.

Mais um dia que será só nosso. Sempre.
Amo-te muito,
Feliz Dia do Pai

Um beijinho da tua menina,

Andreia 

14/03/2017


Comentários