"Paizinho,
Amanhã vais ter uma manhã bastante difícil, eu sei...eu pressinto a tua ansiedade, até porque também se reflecte no meu psicológico...olho para ti e vejo uma espécie dissimulada de dor, raiva e rancor. Não gosto quando vejo assim os teus olhos grandes.
Só te queria dizer que esta noite estarei de alerta, vou-me levantar como combinamos os dois para tratar dos preparativos e para te desejar boa sorte!
É "só" mais uma fase Pai, "só" para mim não é? Para ti não deve ser "só" mais uma, mas sim "a" fase que te custa por tudo aquilo que vês, dia sim dia não, naquela sala nº3, por saberes que isso é no teu corpo e não sai como o cateter experimental, por teres a noção de que eventualmente poderá ser eterno...vamos acreditar que não, certo?
Vamos acreditar que irá correr tudo muito bem e que tu te irás adaptar tão bem ou melhor do que tem sido até aqui...
vamos acreditar...escrever aqui novamente estes desabafos contigo, ainda que virtuais, mexem muito comigo sabes? Eu sei que não sabes mas vou-te dizer...
Voltar a falar destas coisas é como regressar à dor que vivemos anteriormente, é recordar os momentos de lágrimas e coração apertado sem saber o que esperar, sem saber como te ajudar...
Voltar a falar destas coisas é ter medo que possas regredir, é ter medo que algo corra mesmo mal e que tenhas de regressar ao hospital, é ter medo que te sintas mal em casa e não vá a tempo de socorrer pelo facto de não estar presente...
Voltar a a falar destas coisas é regressar àquela vontade de deixar tudo para trás a somente acudir-te, proteger-te, como se não existisse mais nada à volta...
...mas isso não é possível...não posso fazer mais nada além do que faço até então...
Posso sim estar presente ainda que não a todas as horas, posso amar-te e respeitar-te pelo homem que és...mas não posso ir no teu lugar...
És um forte,beijinho
Com amor
A.
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