Avançar para o conteúdo principal

Eu e Tu


Paizito,
Todos os dias tento não esquecer de onde venho. Tento não esquecer quem sou e de onde vêm as minhas raízes.
Tento não esquecer para onde vou, e quem esteve sempre ao meu lado.
Tento não esquecer o que quero e principalmente o que não quero. Tento não esquecer que sou uma menina forte, e que se sou posta à prova é porque em alguma altura eu irei conseguir. Ultrapassar. Recomeçar. Erguer. E não parar.

Fazes-me falta, disso não preciso de me lembrar. É inevitável. As saudades pioram com o tempo…tempo que atenua e nada cura. O coração é pequeno para tanta falta que me fazes, para tanto sentimento guardado, para tanto sorriso não aproveitado, para tanto toque sem resposta…Não choro tantas vezes, e ainda não consegui sentir se isso é bom ou não…
Tenho percebido que esta sensação interior que ficamos quando perdemos alguém não passa. Para quem perde não passa. Aos outros que nos rodeiam a memória torna-se curta… No inicio fiquei triste com isso, hoje em dia simplesmente entendo. Nenhum de nós consegue entender a dor do outro.


A ligação do “eu e tu” que existe entre duas pessoas, quer sejam pai e filha ou outra coisa qualquer é demasiado… nem consigo encontrar as palavras… porque a verdade é que existem coisas para as quais não existe uma explicação. Existem ligações que só fazem sentido assim, entre dois, sem fazer sentido muitas vezes, sem existem palavras acertadas. Somente algo que liga, que une, que faz sentido assim mesmo, entre aqueles dois seres. Um amor eterno e interno, inexplicável e inseparável. Acima de tudo e de todos. Algo de uma vida e para a vida.

Eu e tu, Pai, fomos tanto isto. Somos tanto isto.
É um amor incondicional durante uma vida numa ligação de dar e receber…e mantem-se um amor incondicional depois da perda…mas a ligação já não é a mesma, ou pelo menos, não existe da mesma forma…
Torna se um amor silencioso, um amor angustiante por vezes, um amor estagnado, um amor que continuamos a ter dentro de nós, mas do qual não recebemos nada em troca, ou pelo menos pensamos assim…. Sim, continua presente, dirão alguns. Sim continua ao meu lado…tudo isso eu também penso…mas, e existe um enorme mas…

Sei que te trago sempre comigo, no meu coração, no meu olhar e no meu sorriso… mas é diferente… E importa tanto ter essa noção!
Repito isso quase todos os dias para mim mesma, porque tenho de ter essa consciência, preciso de repetir que estás comigo, mas que é diferente. Para combater as saudades, a falta, a ausência, o medo, as recordações menos boas, a falta de vontade, a tristeza, o desanimo…

Acreditarmos que tudo muda, percebermos que nada se mantém igual, perceber que eu mesma mudei, é importante para continuar a caminhar. Perdi paciência, perdi alegria de estar, perdi uma parte da vida. Sim, mas também ganhei.
Ganhei mais coragem, mais garra interior, mais transparência perante o que quero e o que não quero. Ganhei capacidades para perceber em que lutas vale realmente a pena entrar e quais a que simplesmente me fazem perder tempo.

Perdemos umas coisas, ganhamos outras. Perdemos umas pessoas e não, não ganhamos outras. Mas a ligação minha e tua será sempre a mesma.
E o objetivo é aprender a viver com ela de forma diferente. E serei capaz. Acredito. Porque tu me ensinaste a não esquecer nunca a mulher capaz que sou. E sou-te grata por isso.

Sorrir. Respirar e ir devagar.
Seremos sempre eu e tu, Pai.
Um beijo repenicado

Da tua Andreia

14/08/2017


Comentários