TU...

"Tu eras o Natal...

Toda Tu eras Natal...aguardava ansiosamente essa semana para te receber...adivinhava-se sempre tanta alegria, vivacidade, presépio, cor, embrulhos...doces, panelas a fumegar, conversas até altas horas ao lume sobre tudo e mais alguma coisa...umas prendas didácticas e outras "prendas teenagers" como lhes chamavas...gostava tanto...e tenho tantas saudades...

Mas tantas que até chega a doer por vezes...

Quatro anos sem qualquer tipo de espírito...simplesmente porque tinha de ser e porque algumas pessoas perto de nós merecem o esforço...

4 anos quando o pai adoeceu...e no ano seguinte foste tu que foste "embora"...uma tristeza profunda apoderou-se de nós...a vivacidade que existia deu lugar a um sentimento de vazio, de dor, de rancor...o pensamento "tomara já que esta época passe" assola-nos a mente constantemente...e não havendo crianças pequeninas no seio familiar tornou mais fácil que a época passasse em vão...

Em ano de casa nova, entendi que esta merecia algum espírito natalício...pelo menos para tentar um "recomeço"...mas é tão difícil...

Sabia de antemão que não seria uma tarefa fácil...mas propus-me ao desafio...

...entre choros e apertos no peito escolhi uma árvore...a minha árvore de Natal...a nossa árvore.

Decorei com imenso cuidado, cada bola não foi colocada com um sorriso mas com uma pequena lágrima porque faltas Tu... e mexer nas coisas desta época faz relembrar o que dói...

Ainda assim o resultado final ficou sóbrio e elegante, tal como tu eras...agora sim já é Natal...como dizias...

 Fui "visitar-te" no fim de semana...ao fim de algum tempo de ausência sobre o qual não interessa justificar...não fui e não estive presente...cada um encontra formas de atenuar determinadas dores...e o que os olhos não veem o coração não sente, não é?

Identifiquei de imediato o lugar...e tudo veio à memória...a chuva daquele dia, a prática do padre negro, as flores brancas...a incredulidade do momento...

Sentia as bochechas vermelhas e doridas de levarem com o vento...as lágrimas escorriam pela face mas o vento depressa as secava...parecia que tinha estado ali à tão pouco tempo...é Natal outra vez e tu não estás cá...fiz a árvore...vim ver-te...mas de nada adianta...

Nada te tira desse bloco 6...nada te tira desse nº 551... deixo te uma rosa branca e uma flor campestre juntamente com um beijo e muitas "festinhas" nessa lápide fria e distante...

Gostava tanto que tivesses aqui...tinha tantas coisas para te contar...

Ao fundo está uma senhora deitada no chão a "cantarolar" uma música hindu ou algo do género e os sons que emite ecoam por todo o cemitério...melodia de choro possivelmente...e eu acompanho essa mesma melodia, silenciosamente...como a percebo...a dor perante os factos...a inevitabilidade da perda...a revolta...podem passar anos, o tempo atenua...somente isso...

Agradeço sempre o facto de teres sido a "titia" que sempre foste...foste única e continuas a ser...

Inconscientemente partilho as minhas coisas contigo...não obtenho resposta, mas tento sempre fazer de acordo com tudo aquilo que me dizias...temos de ser nós próprias e arcar com o que isso traz implícito...

Sermos nós...diferentes mas especiais em alguma coisinha... :)

Tu...

Sempre foste única e sempre foste o elo de ligação entre todos...

Sem ti jamais será igual...e quando penso nisso apetece gritar, o estômago fica embrulhado de angustia...

O Natal perde a magia e o encanto que tinha...

Tu...

Eras essa magia...

Tenho-te comigo no coração...

Olha para a minha árvore de Natal que tanto me custou a fazer...foi uma luta de sentimentos... e vislumbro as tuas feições nas bolas transparentes...questiono-me porque tem de ser assim...mas esforcei-me muito para a fazer com o máximo de carinho pois seria assim que Tu querias...

Tu...que não estás aqui presente e corpo...mas o teu espírito tão especial e tão mágico está aqui sim...

Tu eras o Natal..."